Marcos Assumpção

Cada cantor tem a sua praia, mas Marcos Assumpção, que também é músico e compositor, tem o seu quintal. Aliás, os seus quintais... É que o moço passeia por vários desde que transformou o quintal da casa dos avós em que passou sua infância em seu primeiro palco. Foi lá que Marcos começou a descobrir o mundo e vislumbrar o que o mundo queria dele.

Quintais nunca faltaram na trajetória de vida de Marcos Assumpção. Ele já andou por quintais de serestas por influência do pai violonista; conheceu os quintais do Direito, curso em que ele, mesmo sem vocação, se graduou; com convicção foi parar nos quintais da Medicina Veterinária, uma vez que sempre adorou animais, principalmente aqueles que são sempre vistos em quintais. Mas é no quintal da música - do qual nunca saiu - que ele pretende seguir adiante. E talento não lhe falta para isso. Nem garra, nem inspiração.

Em seu quarto CD de carreira, “Quintais”, Marcos Assumpção experimenta emoções que qualquer mortal pode ter sentido. Na faixa que abre o CD, “Casa vazia”, ele passeia pelo quintal da solidão, em que dói a saudade da pessoa amada. Já a faixa seguinte, “Meu quintal”, é o quintal da fantasia, da imaginação, em que Marcos se permitiu criar uma história a partir de uma imagem e da lembrança da irmã e do avô, que já foram perfumar outros quintais.

Em “Livre pra você”, o quintal é o mundo todo, é como quando a gente encontra um amor e abraça a vida com força e, ao mesmo tempo, completamente à vontade, solto, livre mesmo. Nessa faixa, especialmente, a banda contribui muito para esse clima “djavaneante”. Não à toa, aliás! Afinal de contas, são todos feras que já tocaram com o artista alagoano: João Castilho (violão de nylon e aço), André Neiva (baixo), Glauton Campello (teclados), Carlos Balla (bateria), Marcos Lobo (pandeirola, triângulo, woodblock), Zé Canuto (sax alto), Jessé Sadoc (trompete), Aldivas Ayres (trombone) e Marcos Caminha (programação de looping).

Neste quarto CD de Marcos Assumpção também há o quintal da esperança. É “Castiçais”, música de melodia simples, suave, que fala da esperança que todos temos: a de encontrar “aquela” pessoa especial. Essa mesma esperança reaparece na faixa seguinte, “Sorria”, para desembocar em “A trilha”. Sentiu como o quintal da esperança é enorme nesse CD?

Mas, como nem só de esperança vive Marcos Assumpção, há também, neste trabalho, o quintal da sorte. É a música “Sorte pra nós dois”, música de Fabianno, um compositor que ele não conhece pessoalmente, mas cujo trabalho foi lhe apresentado pelo parceiro Chafic Lays.

O lirismo também tem seu quintal neste quarto CD de Marcos Assumpção. É em “Romã”, música dele em parceria com a amiga Lucina. O outro parceiro nesse disco, Chafic, divide com Marcos a faixa “Mágica”. E o CD fecha ainda mais lírico com uma ousadia do cantor e compositor, que musicou um poema da poetisa portuguesa Florbela Espanca e deu para Paulo Calanzans fazer os arranjos. Uma ousadia mais do que bem sucedida! Ao contrário, do que dizem os versos de Florbela Espanca em “Caravelas”, Marcos Assumpção chegou ao meio da vida cheio de gás para encarar o desafio de ser músico, cantor e compositor, sem sair do seu quintal que é a Música Popular Brasileira. (Carla Paes Leme - jornalista).